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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

Único pacto possível
24/07/2015 - Blog de Reinaldo Azevedo - Veja.com

Leio na Folha que também o Palácio do Planalto -- deve ser a presidente Dilma Rousseff -- estimula, a exemplo de Lula, a aproximação com a oposição.

Deixem-me ver se entendi direito o modelo: o PT vence a eleição afirmando que o adversário pretende elevar juros, aumentar tarifas e provocar recessão.

Uma vez vitorioso, eleva juros, aumenta tarifas e produz recessão.


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Certo.

O PT vence a eleição transformando a oposição no Belzubu do atraso social e dizendo-se, ele próprio, a voz do povo.

Uma vez vitorioso, vê-se obrigado a cortar benefícios com os quais comprou uma parte do eleitorado.

Entendo.

O PT vence a eleição sustentando que qualquer outro resultado que não o triunfo do partido implicaria uma marcha à ré na história.

Uma vez vitorioso, acuado por suas próprias contradições, demonizado nas ruas, cobrado por suas promessas não cumpridas, eis que o partido descobre as virtudes de um “entendimento” com a... oposição.

O ministro Edinho Silva, da Comunicação Social, diz que, “em todos os países democráticos, é natural que ex-presidentes conversem e, muitas vezes, que sejam chamados pelos presidentes em exercício”.

E acrescenta:

“Essa é uma prática comum nos Estados Unidos, por exemplo”.

É verdade...

No primeiro programa do segundo turno da campanha do ano passado, Dilma se referiu assim ao tucano Aécio Neves:

“Ele representa um modelo que quebrou o país três vezes, que abafou todos os escândalos de corrupção, que provocou desemprego altíssimo, recessão, que esqueceu os mais pobres”.

É mesmo, Dilma?

E está querendo conversar com “eles” por quê?

Mais interessante ainda: os petistas decidiram agora distinguir os “bons tucanos” dos “maus tucanos” -- e os “maus”, claro!, são aqueles que não querem bater um papinho em nome do entendimento.

Na lista dos tucanos mauzinhos do PT está o senador Aécio Neves (MG), presidente do PSDB, o que é, claro!, uma distinção e tanto.

Espero que o presidente do maior partido de oposição continue persona non grata aos petistas.

O Instituto Lula, que, num primeiro momento, negou que estivesse em curso uma tentativa de diálogo, resolveu mudar de posição por intermédio de seu presidente, Paulo Okamotto, que afirmou à Folha:

“Minha opinião é que tanto o presidente Lula como o presidente Fernando Henrique são políticos importantes, com responsabilidades e capacidade de analisar o que o Brasil está enfrentando. Sempre fui a favor de que a gente converse com quem faz política”.

Ah, que bom que Okamotto pensa isso, não é?

Na campanha eleitoral, a candidata à reeleição Dilma Rousseff afirmou o seguinte:

“Está em jogo o salário mínimo. O candidato dele -- ela se referia a Aécio --, o ministro da Fazenda (estava falando de Armínio Fraga) acha alto demais e tem que reduzir. Nós não vamos permitir que o Brasil volte para trás”.

Por que Dilma iria querer um entendimento com gente tão má?

Jaques Wagner, ministro da Defesa e candidato de sempre à Casa Civil, reconhece que isso pode não ter sido muito elegante e diz:

“Apesar da última campanha dura, não podemos deixar consolidar na alma brasileira, e na política brasileira, uma dicotomia que não se conversa. Essas posições, governo e oposição, a gente troca. O que não pode perder é o norte do país”.

Que bom!

Segundo a candidata Dilma, como se evidencia acima, não tem essa de alterar oposição e governo.

Ou o PT vence, ou se trata de retrocesso.

Acho que chega, não é mesmo?

Essa conversa já foi longe demais.

Se há tucanos querendo bater um papinho, o PT sempre será um lugar quentinho para abrigar o diálogo.

Basta se bandear.

Eu estou enganado ou a população elegeu o PSDB para liderar a oposição?

Não!

Eu não estou enganado.

Sendo assim, que cada um honre o voto que recebeu.

Querer um diálogo com a oposição, como agora quer Dilma, com 7,7% de ótimo e bom, segundo a mais recente pesquisa, é uma coisa.

Os petistas deveriam ter se lembrado de dialogar quando a presidente tinha quase 70% de aprovação.

Ah, a minha memória não falha: eles não queriam conversa.

A ordem, então, era destruir até o PMDB, já que davam o PSDB por liquidado.

Vamos fazer um pacto, gente, em favor da governabilidade?

Todos seguiremos as leis e a Constituição, que contemplam até o impeachment.

Que tal?


  

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