Governadores adorariam fugir, mas Dilma quer dar um abraçaço neles 28/07/2015
- Blog de Reinaldo Azevedo - Veja.com
Há coisas, como costumo escrever aqui, que nem erradas são. Apenas não existem.
A “política de governadores”, que Dilma pretende ressuscitar, foi enterrada junto com a República Velha.
E todas as tentativas de retomá-la, desde aquele tempo, deram em nada. Como dará de novo agora.
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A presidente pretende reunir os 27 chefes de Executivos estaduais na quinta-feira para que eles conversem com as respectivas bancadas federais de seus Estados, tentando impedir a aprovação da chamada “pauta-bomba” -- medidas que provocariam um rombo no caixa, a exemplo do tal aumento de 56%, em média, concedido ao Judiciário, que ela teve de vetar.
Qual é a justificativa para o encontro, tecnicamente procedente, mas politicamente inócua?
Reajustes concedidos a funcionários federais e gastos impostos à União acabam, invariavelmente, impactando nos Estados.
É verdade.
A questão é saber qual é o real poder de fogo dos governadores nas bancadas federais.
Os alinhamentos que se dão no Parlamento são de outra natureza.
Nem mesmo o Senado está sujeito a uma influência muito forte dos governadores.
A orientação partidária e as afinidades por setor da economia ou por convicção acabam tendo mais influência.
De resto, a tal pauta-bomba é mero pretexto.
Dilma está querendo é dar uma demonstração de força política num momento em que se considera que cresceu a possibilidade de ter sequência uma denúncia contra ela na Câmara, já que, por enquanto ao menos, o governo avalia que é altíssimo o risco de o TCU recomendar a rejeição das contas.
Também esse tema ficará fora da pauta, mas, como se sabe, presente.
Os governadores estão numa saia-justa.
É provável que compareçam.
Por outro lado, prefeririam ficar longe desse cálice.
Nenhum chefe de Executivo estadual é hoje tão impopular como Dilma. O receio óbvio é que a impopularidade dela os acabe contaminando e que, vistos todos juntos, sejam considerados corresponsáveis pelo momento notavelmente ruim por que passa a economia.
A presidente pretende fazer a reunião na quinta, dia 30, quase antevéspera de ir ao ar o programa político do PT, no qual ela vai falar.
O panelaço, apitaço, buzinaço e outros superlativos do descontentamento pátrio já estão convocados.
Dez dias depois, há o protesto, que já se aposta gigante, do dia 16 de agosto.
Ninguém estava disposto a posar agora ao lado de Dilma, mas sabem como é...
No federalismo à moda brasileira, em que presidente da República é quase imperador absolutista, fica difícil recusar.
Já dá para antever o desânimo.
Os governadores adorariam fugir, mas Dilma faz questão de dar “um abraçaço” neles, como diria Caetano...