Dilma já não governa 06/08/2015
- Blog de Reinaldo Azevedo - Veja.com
Parece que a ficha caiu para quase todo mundo, mas não para o PT, como costuma acontecer.
Ontem, quarta, com prazo de algumas horas, tanto o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, como o vice-presidente, Michel Temer, fizeram apelos verdadeiramente dramáticos em favor da, sei lá como chamar.. Talvez a palavra seja “governabilidade”.
Começo pela fala do vice, mais grávida, acho eu, de significados.
PUBLICIDADE
Depois de um dia de muitas conversas ao pé do ouvido, Temer emprestou a seu discurso uma temperatura e uma gravidade inéditas em sua retórica.
Leiam:
“Na pauta dos valores políticos temos, muitas vezes, a ideia do partido político como valor, do governo como valor e do Brasil como um valor mas nessa pauta de valores, o mais importante é o valor Brasil, o valor País e estamos pleiteando exata e precisamente que todos se dediquem a resolver os problemas do País. Não vamos ignorar que a situação é razoavelmente grave, não tenho dúvidas de que é grave porque há uma crise política se ensaiando, uma crise econômica que está precisando ser ajustada, mas, para tanto, é preciso contar com o Congresso Nacional, com os vários setores da nacionalidade brasileira.”
E seguiu adiante:
“É preciso que alguém tenha a capacidade de reunificar, reunir a todos e fazer este apelo, e eu estou tomando esta liberdade de fazer este pedido porque, caso contrário, podemos entrar numa crise desagradável para o País. Eu sei que os brasileiros não contam com isso, os brasileiros querem que o Brasil continue na trilha do desenvolvimento, e é por isso que, mais uma vez, eu reitero que é preciso pensar no País acima dos partidos, acima do governo, e acima de toda e qualquer instituição. Se o País for bem, o povo irá bem. É o apelo que eu faço aos brasileiros e às instituições no Congresso Nacional.”
Retomo
Eis o ponto. Temer sabe muito bem que inexiste, na política, salvo nos momentos de guerra e de verdadeira comoção nacional -- e, felizmente, não chegamos a eles --, esse pensar isso e aquilo acima de partidos, convicções, diferenças etc.
Isso é pura retórica.
É preciso, aí sim, que exista liderança política.
Eis o problema.
Cadê?
Notem que Temer diz:
“É preciso que alguém tenha a capacidade de reunificar, reunir a todos e fazer este apelo”.
E, em seguida, ele se oferece para esse papel:
“E eu estou tomando esta liberdade”.
Vale dizer: está tentando fazer o que Dilma não consegue mais: governar.
É evidente que o país não vive, diga-se em boa hora, uma anomia, mas governabilidade, com vistas ao futuro, também não há.
O dia em que, ao fim, o vice se oferece para a governança foi aberto com Aloizio Mercadante, numa audiência pública na Câmara, admitindo, na prática, a falta de controle do governo sobre a crise.
O homem, vejam vocês, fez até um inédito mea-culpa:
“Vivemos um momento politizado, com erros que cometemos, e se cometem quando se governa”.
Embora tenha admitido que é tarefa da base aprovar o ajuste fiscal, falou em “resposta compartilhada”, referindo-se à oposição, em questões que digam respeito ao futuro.
É claro que tanto a fala de Mercadante como a de Temer embutem um diagnóstico sobre a situação política e, quem sabe?, psicológica de Dilma.
A presidente já não governa.
Não obstante...
Pois é...
Não obstante a dramaticidade dos discursos, Dilma aparecerá nesta quinta no horário político do PT, com panelaço certo, servindo de “esquenta” para a megamanifestação do dia 16, e o partido da presidente saiu por aí a convocar protestos contra Eduardo Cunha e o que chama “avanço da direita”, que, ainda que fosse verdadeiro, teria o direito de avançar, desde que segundo a lei e a ordem.
É por isso que tenho escrito e dito que Dilma faria um bem imenso ao país se renunciasse.
Hoje, a sua incapacidade gerencial agrava os problemas decorrentes do desmoronamento do modelo de governo petista e de desconstituição do partido.