O futuro na janela 16/08/2015
- Carlos Brickmann - Observatório da Imprensa
No Brasil, ensinava o ministro Pedro Malan, até o passado é imprevisível.
Mas o futuro já dá para prever: basta olhar hoje pela janela, abrir os ouvidos à voz das ruas, dar uma volta com a manifestação Fora Dilma.
Caso a manifestação seja pequena, os bons acertos do governo com Guerreiros do Povo Brasileiro como Renan Calheiros, Guilherme Boulos, do MTST, e Wagner Freitas, o presidente da CUT que se imagina comandante supremo dos exércitos bolivarianos, permitirão à presidente Guerreira da Pátria Brasileira arrastar-se até pelo menos a próxima crise (como a da CPI do BNDES, por exemplo; ou, já iniciada, a investigação da Polícia Federal sobre o custo da Arena Pernambuco, construída pela Odebrecht, e que certamente não se limitará a um único estado, nem a um só estádio).
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Uma grande manifestação enfraquecerá ainda mais quem já está fraca. E os índices de popularidade de Dilma não têm mais como emagrecer.
Os seres vivos (e políticos são muito mais vivos) têm como principal instinto o da sobrevivência. Governo que disponha de cargos a distribuir tem lá seus atrativos.
Isso, entretanto, só vale longe das eleições: em anos eleitorais, como 2016, governo fraco é evitado como doença contagiosa.
Político adora vencedores e foge de quem depende de um Renan para sobreviver mais algum tempo. Muda de lado, e logo.
Collor, aliás, se apoiava em Renan. E Renan o abandonou.
Em resumo, se a manifestação for um sucesso, até o Barba a porá de molho.
De crise…
Neste momento, a propósito, é bom manter as barbas de molho.
A Polícia Federal invadiu na sexta-feira escritórios da Odebrecht em seis estados -- Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal -- na Operação Fair-play (jogo limpo).
O objetivo é apurar se houve fraude na concorrência e superfaturamento na Arena Pernambuco, construída no governo Eduardo Campos (PSB) para a Copa do Mundo.
Investiga-se direcionamento da concorrência, em benefício da Odebrecht, e superfaturamento entre R$ 40 e R$ 75 milhões.
E por que escritórios da empresa em outros estados também foram vasculhados?
Segundo a Polícia Federal, para comparar os preços cobrados nos quatro estádios construídos pela Odebrecht para a Copa.
Só mais um problema: há suspeitas de superfaturamento em outros estádios.
E, em pelo menos um deles, o do Corinthians, o presidente Lula ajudou o dirigente corintiano Andrés Sanchez, que contou a história, a resolver problemas.
…em crise
O deputado Arnaldo Jordy (PPS-Pará), requereu à CPI do BNDES a convocação do ex-presidente Lula e de seu filho Fábio Luís Lula da Silva.
É a primeira vez em que alguém, numa CPI, tenta investigar um integrante da família de Lula.
A lei, ora a lei
O presidente da CUT, Wagner Freitas, na frente da presidente da República, ameaçou pegar em armas com finalidade política.
Não importa o que moveu o presidente da CUT a usar essa inaceitável linguagem bélica: caberia à presidente cumprir a lei, oficiando ao procurador-geral da República para investigar o caso.
Dilma preferiu rir de alegria diante da ameaça de luta armada.
A frase de Freitas: “Nós somos trabalhadores. Somos defensores da unidade nacional. Isso implica ir para as ruas entrincheirados, de armas na mão, se deitar e lutar, se tentarem tirar a presidente. Nós seremos o exército que vamos enfrentar essa burguesia”.
Alô, Ministério Público Federal!
Tudo normal, dentro da lei?
Aplausos pagos
A Marcha das Margaridas, promovida pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura, Contag, em apoio à presidente Dilma Rousseff, é estranhíssima: primeiro, porque a manifestação em favor do governo foi paga pelos cofres públicos: R$ 400 mil da Caixa, R$ 400 mil do BNDES e R$ 55 mil da Itaipu Binacional.
A manifestação em apoio a Dilma atraiu 15 mil pessoas, ao custo, portanto, de R$ 57 por pessoa, fora lanchinho e refrigerantes -- tudo tirado do seu, do meu, do nosso dinheiro.
Segundo, porque os recursos saídos da área econômica do governo foram usados para hostilizar o chefe da área econômica do governo.
O grito era Fora Cunha, Fora Levy.
Cá entre nós, pode dar certo?
Brasil, um retrato
Campo Grande, uma bela cidade, é capital de Mato Grosso do Sul.
O prefeito Alcides Bernal, do PP, perdeu o mandato por corrupção.
O vice Gilmar Olarte, também do PP, assumiu, mas está sujeito à cassação por corrupção (a Câmara Municipal o enviou à Comissão Processante por 29 x 0), e o Ministério Público o processa por lavagem de dinheiro e corrupção passiva.
O seguinte na linha de sucessão é o presidente da Câmara, Mário César Oliveira da Fonseca, do PMDB, que está sendo investigado pela Polícia Federal na Operação Lama Asfáltica.
Só?
Não!
Em junho de 2014, o vereador Mário César teve o mandato cassado pela juíza eleitoral Elisabeth Rosa Baisch, por abuso de poder econômico durante a campanha.
Mário César recorreu, venceu e foi reconduzido ao cargo.
Esperemos o próximo capítulo.
O correspondente desta coluna em Campo Grande, um excelente jornalista, Paulo Renato Coelho Neto, se mantém sempre alerta.