Acordão com remendão 20/08/2015
- Vinicius Torres Freire - Folha de S.Paulo
Alimentar três capivaras com uma cenoura só: na política, na economia e na receita de impostos.
Parece esse o objetivo dos pacotes de socorro a empresas que o governo começou a desovar ontem, com especial cortesia da Caixa e de fundos de poupança forçada do trabalhador (FAT e FGTS).
A carruagem deve prosseguir com o apoio do Banco do Brasil, quiçá do BNDES.
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O governo deu uma escapada, pois, dos estatólatras anônimos, na verdade notórios, e recaiu no vício. Foi mais esperto e comedido que nos tempos de Dilma 1, mas bebeu de novo.
Uma capivara parece política. Se o socorro não foi combinado como parte do "acordão" que dá sobrevida a Dilma, pode muito bem ser um doce com laço de fita presenteado pelo governo, em retribuição ao empresariado solícito.
Outra capivara magra é o caixa do governo. Se o pacotinho não foi pensado como um remendinho para o buraco nas contas do governo, pode funcionar para arrumar uns trocos.
As empresas estão pagando muito menos IR, por causa da recessão medonha, claro, e porque empurram com a barriga o débito tributário com o governo, à espera de um Refis, outro vício alimentado pelo governo.
Uma parte do dinheiro que sai pela porta dos bancos públicos pode entrar no cofrinho vazio de Joaquim Levy.
A cenoura também mata a fome de capivaras "desenvolvimentistas", até agora mantidas a pão e água no governo de Dilma 2, faz um gesto para parte da avariada "base social" do governo, pois empresas com um tico mais de crédito respiram e, enfim, há empréstimos em tese condicionados à manutenção do emprego.
Em resumo, trata-se de emprestar dinheiro barato a empresas que estão pela hora da morte ou, menos dramático, do calote.
Empresas não estão pagando o que devem a suas contrapartes de negócios.
Mas o dinheiro pode irrigar outras paragens -- os dados de ontem eram insuficientes para entender o caminho dos benefícios.
Foram agraciadas as montadoras, as fábricas de autopeças e as vendedoras de carros.
Haverá programas para a construção civil, arrebentada por efeitos colaterais da Lava Jato e pela ruína da Petrobras, por atrasos de pagamento e cortes de investimento federais.
Na fila, estão empresas de eletroeletrônicos, petróleo e gás, máquinas e química.
PINDAÍBA
A receita do governo deve levar em 2015 o maior tombo em 20 anos (desde 1995, a receita caíra só em 2003 e 2009).
Deve haver um inédito biênio de receita em baixa, desastre quase todo devido a incompetências e irresponsabilidades de Dilma 1.
Como de costume nas recessões, a arrecadação de impostos das empresas é a que baixa mais violentamente.
Não é diferente agora.
Soube-se ontem que a receita federal foi R$ 21,8 bilhões menor do que em 2014 (de janeiro a julho), queda de 2,9%, descontada a inflação. No imposto de renda de empresas (excluído o pago na fonte), a queda foi de R$ 8,6 bilhões. De CSLL, de R$ 4 bilhões.
O resultado da arrecadação está sendo especialmente desastroso por causa da Previdência (queda de R$ 7,9 bilhões), pois em uma bebedeira de Dilma 1 o governo "desonerou" as empresas de pagar parte da contribuição ao INSS.