Sobre as elites e as zélites 02/09/2015
- Blog de Marcelo Madureira - Veja.com
Vasculhando até as fronteiras do latifúndio da minha ignorância, não lembro de nenhuma civilização humana em que não houvesse uma “elite”: os nobres, os sacerdotes, os melhores guerreiros, os maiores sábios, os melhores atletas, os mais talentosos artistas, os melhores artesãos.
Enfim, os melhores entre os melhores eram (e até hoje são) o que se chama de “elite” em qualquer ajuntamento humano.
Pertencer à elite, qualquer elite, não necessariamente à elite financeira, é motivo de orgulho para qualquer um.
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Ser extraordinariamente bom e competente em alguma atividade (que não seja ilegal, é claro) é, de fato, uma conquista do indivíduo, é o triunfo do mérito, do talento, da dedicação, do estudo e, portanto, digno de admiração.
Mas pertencer a uma elite não contém só o bônus do respeito, do carinho, da aprovação pela comunidade.
Pertencer a uma elite tem também o seu ônus.
Existe um preço a ser pago e não é barato.
A elite de uma sociedade saudável tem a responsabilidade intransferível de apontar os caminhos e conduzir os destinos do conjunto dos seus concidadãos.
A elite tem a responsabilidade de semear o futuro da coletividade.
Até mesmo na teoria leninista se admite a existência de uma elite, qual seja, o Partido Bolchevique, que é entendido como a vanguarda e a elite do proletariado.
O entendimento extravagante que o lulopetismo cultiva das “elites” chega a ser caricato.
Na “mente” do Grande Ideólogo do lulismo, o que se compreende por “elite” é um grupo de cidadãos privilegiados, que se dedicam a se apropriar da mais-valia dos pobres trabalhadores explorados.
São egoístas, gananciosos e sentem um prazer inenarrável ao submeter à miséria e ao sofrimento aqueles que não pertencem à sua turma.
Nessa narrativa imagino a clássica figura daquele sujeito gordo, de fraque e cartola, com um saco de dinheiro em uma das mãos e na outra um enorme charuto.
Curioso.
A entrevista do banqueiro Roberto Setúbal à Folha de São Paulo no domingo, 23 de agosto último, nos mostra um retrato acabado de como raciocina uma parte da elite do empresariado nacional.
O pensamento de Setúbal deixa claro como os líderes empresariais brasileiros se caracterizam por um pragmatismo equivocado.
Estão mais preocupados com o balanço do final do ano do que com a saúde dos seus empreendimentos no longo prazo. Principalmente no setor financeiro, que é o maior credor do governo.
O empresariado oportunista também cultiva uma relação promíscua com as autoridades, sempre à espreita de favores, benefícios fiscais e protecionismos setoriais.
Outra característica desse grupo é o pequeno interesse em ganhos de produtividade, inovação tecnológica, eficiência e competitividade.
Tudo isso, a meu ver, é resultado de uma sólida formação humanista e política, indispensável para as responsabilidades de suas funções.
Evidentemente, ficam fora desse perfil as honrosas exceções de praxe e que confirmam a regra.
Na referida entrevista, o presidente do Itaú revela que está em contradição com a sociedade brasileira.
Mau para ele, pior para a imagem do banco que dirige.
Esse tipo de pensamento é típico daqueles que não querem sair da zona de conforto, mesmo porque são beneficiários diretos do atual quadro político, se não sócios-financiadores do poder vigente.
Eles não têm motivos para tirar Dilma do poder.
Acreditam que tal fato “pode trazer instabilidade ao país…”.
Mas o clima atual no país é de quê? Otimismo e tranquilidade?
E mais, Setúbal abona atitudes inexistentes da presidente quando afirma “…o que a gente vê é que Dilma permitiu a investigação total sobre o tema”, o que apenas revela que ele desconhece a diferença entre Governo e Estado.
Sobre as pedaladas fiscais, o presidente do Itaú declarou: “podem merecer punição, mas não são motivo para tirar a presidente”.
Portanto, mostra que desconhece a Lei de Responsabilidade Fiscal.
No meio da entrevista, o senhor Setúbal, talvez querendo tirar uma onda de empreendedor moderno, revela sua preocupação com a produtividade e a eficiência da economia brasileira.
Concordo com as preocupações do importante banqueiro, mas posso garantir que ele não deve ser cliente do seu banco Itaú.
Pelo menos no que toca ao atendimento ao cliente, eficiência e produtividade não fazem parte da gestão do banco. Vale o dito popular: santo de casa não faz milagre.
Lembro as palavras de Fernando Gabeira em artigo recente.
No caso da permanência de Dilma Rousseff até o final do seu segundo mandato, em três anos o Brasil será um pais diferente.