Tome-se o famoso lance em que Nilton Santos teria feito pênalti no espanhol Enrique Collar na Copa de 1962, no Chile, quando a Espanha já vencia a seleção brasileira por 1 a 0 e a eliminava ainda na primeira fase.
O genial lateral esquerdo, apelidado "Enciclopédia do Futebol", deu dois passos à frente e apontou ao árbitro, fora da área, o local da falta.
O apitador deixou-se levar e a falta que seria pênalti deixou de ser, embora de sua cobrança, por Ferenc Puskás tenha resultado o segundo gol espanhol, numa bicicleta de Peiró que o juiz considerou como jogo perigoso e anulou.
PUBLICIDADE
Mais perfil de um bom ladrão, na visão brasileira sem ironia, impossível. Seria pênalti, ele marcou fora da área e depois ainda anulou o gol que quase certamente eliminaria os campeões mundiais de 1958.
Ocorre que nada disso teria entrado para a história do futebol caso o árbitro tivesse percebido que Nilton Santos não fez falta alguma, que Collar se jogou em cima de sua coxa dentro da área, num mergulho que causaria indignação hoje em dia nos países da Grã-Bretanha.
Elementar, diria o Conselheiro Acácio se fosse Sherlock Holmes ao conversar com seu companheiro Watson: se não houve a falta, não haveria pênalti, nem a cobrança que resultou na bicicleta.
Até a elogiada malandragem de Nilton Santos não empanaria sua biografia nestes tempos politicamente corretos.
Foi tudo um equívoco, como a frase "Elementar, meu caro Watson" jamais foi escrita por Sir Arthur Conan Doyle em seus livros sobre o detetive, embora consagrada num filme sobre Holmes.
Mais escandaloso foi o que aconteceu numa semifinal de Paulistinha, em 1998, entre Corinthians e Portuguesa, quando o apitador argentino Javier Castrilli entrou para a história como um gatuno de primeira.
O empate em 2 a 2 pôs o alvinegro na final e o andamento do jogo teria mostrado como o rubro-verde foi roubado, pois os dois gols corintianos nasceram de pênaltis inexistentes.
Quando, porém, friamente, você olha para os lances, vê que os dois penais existiram, um porque um luso dá uma gravata num corintiano na área e outro porque o zagueiro da Lusa mete o braço na bola que fugia ao seu controle. Pior: os dois gols da Portuguesa foram irregulares.
As imagens desses jogos estão em meu blog, no UOL, desde anteontem, para você tirar suas conclusões.
O melhor de tudo é que, então, em 1998, no "Cartão Verde", este que vos escreve, influenciado pela indignação que tomou conta de São Paulo após o jogo, pediu que o presidente do Corinthians propusesse a anulação do jogo em nome da decência. Felizmente ele não deu ouvidos. Teria sido erro duplo, meu e dele.
Até hoje os espanhóis choram o lance de Nilton Santos e não há o que limpe o nome de Castrilli.
Porque muitas vezes as versões são mais fortes que os fatos.