Temer volta a trombar com Dilma 09/09/2015
- Blog de Ricardo Noblat - O GLOBO
Se você acha que o vice-presidente Michel Temer trombou feio com a presidente Dilma Rousseff na semana passada ao dizer que ela não conseguirá governar até o fim do seu mandato com popularidade tão baixa foi porque não soube ou não prestou atenção no que leu sobre o que ocorreu ontem à noite em Brasília.
Na segunda-feira, em pronunciamento à Nação por meio das redes sociais, Dilma confessou que o governo no ano passado gastou acima do que podia e que por isso mesmo será obrigado a adotar “medidas amargas”.
Os principais ministros do governo passaram a terça-feira em reuniões estudando as tais “medidas amargas”.
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Para quem pariu um Orçamento da União de 2016 com um rombo de 30 bilhões de reais, só restou ao governo acenar com cortes de despesas, ainda por calcular, e aumento de impostos.
Em Paris, o ministro Joaquim Levy, da Fazenda, admitiu aumentar o Imposto de Renda dos brasileiros que ganham mais.
Em Brasília, de preferência mediante o anonimato, ministros sopraram para jornalistas que o governo poderia aumentar impostos que não dependem de aprovação do Congresso, e propor a criação de uma contribuição provisória para atravessar os próximos anos de crise.
Por contribuição provisória, entenda-se: um novo imposto.
Foi aí que Temer trombou direto com Dilma pela segunda vez em menos de uma semana.
Antes de se reunir à noite com os governadores e líderes do PMDB na Câmara dos Deputados e no Senado, Temer deu uma entrevista onde disse:
- Temos que evitar remédios amargos e, se for possível simplesmente cortar despesas, a tendência é essa.
Não satisfeito de se opor diretamente a Dilma e ao que ela e seus ministros planejam, Temer disse mais:
- As pessoas não querem em geral aumento de tributo. Tenho sustentado exatamente o corte de despesas. Aumento de impostos só em última hipótese; última hipótese descartável desde já.
Até o meio da tarde de ontem, Temer ainda defendia o aumento da Cide, tributo cobrado sobre a venda de combustíveis.
Foi o ex-ministro Delfim Neto, da Fazenda, quem convenceu Temer das vantagens de aumentar a Cide.
Com isso poderia ser gerada uma receita adicional de 14 bilhões de reais, sendo 11 bilhões para o governo federal e o resto para Estados e municípios.
Eduardo Cunha, presidente da Câmara, Renan Calheiros, presidente do Senado, e outras vozes de peso do PMDB fizeram Temer mudar de ideia.
Para não ficar isolado e continuar se distinguindo de Dilma, ele esqueceu o aumento da Cide e advogou o que prefere seu partido: o simples corte de despesas.
Assim também Temer conta pontos com empresários e banqueiros que não suportam mais ouvir falar em aumento de impostos.
De resto, se reaproxima da oposição, contrária a mais impostos, e deixa Dilma falando sozinha.
Tudo o que Dilma queria era que Temer ajudasse o governo a resolver o rombo do orçamento.
Temer já disse que não moverá uma palha para substituir Dilma.