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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

A arte da fuga de capitais
09/09/2015 - Kenneth Rogoff*

Qual o impacto que o desaquecimento da China tem no alto mercado contemporâneo de arte?

Isto pode não parecer uma pergunta pertinente, até que alguém perceba que, para os investidores em mercados emergentes, a arte se tornou um importante meio facilitador de fuga de capital e camuflagem de fortunas.

Estes investidores estimularam a criação de uma espetacular bolha no mercado de arte nos últimos anos.


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Assim, com as economias emergentes, da Rússia ao Brasil, entrando em recessão, a bolha vai estourar?

Há apenas cinco anos, Larry Fink, presidente e diretor-executivo da BlackRock, o maior gestor de ativos do mundo, afirmou a uma plateia em Cingapura que a arte contemporânea se tornou uma das duas mais importantes formas de guardar fortunas internacionalmente, ao lado de apartamentos em grandes metrópoles, como Nova York, Londres e Vancouver.

Esqueça o ouro como hedge (proteção) contra a inflação; compre quadros.

O surpreendente da elevação da arte para o status de grau de investimento feita por Fink é que ninguém do seu top tivera ousadia suficiente para expressá-la.

Não estou, obviamente, celebrando a tendência.

Tendo a concordar com o filósofo Peter Singer que as somas obscenas sendo gastas em peças de arte moderna iniciantes são perturbadoras.

Podemos todos concordar que essas somas impressionam.

Em maio, o quadro “Mulheres de Argel”, de Pablo Picasso, foi vendido por US$ 179 milhões em um leilão da Christie’s, em Nova York, ante US$ 32 milhões em 1997.

Tudo bem, é um Picasso. Mesmo assim, não foi o maior preço pago este ano.

Um colecionador suíço pagou quase US$ 300 milhões em uma venda privada pela tela de 1892 de Paul Gauguin, “Quando você vai casar?”.

Picasso e Gauguin estão mortos. A oferta de seus quadros é conhecida e limitada.

Apesar disso, o recente frenesi de preços se estende a um significativo número de artistas vivos, liderados pelo americano Jeff Koons e o alemão Gerhard Richter e descendo bem fundo na cadeia alimentar.

Para economistas, a bolha da arte lança muitas questões fascinantes, mas uma especialmente interessante é justamente quem pagaria tanto por arte de alta qualidade.

É difícil saber a resposta, porque o mundo da arte é extremamente opaco.

De fato, a arte é a última grande oportunidade de investimento sem regulação.

Muito tem sido escrito acerca de pinacotecas de gestores de fundo de hedge e fundos de private equity de arte (onde essencialmente se compram ações em portfólios de arte sem que obtenha a posse das peças).

Na verdade, os compradores dos mercados emergentes, inclusive chineses, se tornaram compradores decisivos, em geral fazendo as compras de forma anônima.

Mas não há na China um regime rígido de controle de capital que limita os cidadãos a aplicarem mais de US$ 50 mil anualmente fora do país?

Sim, mas há muitas formas de movimentar dinheiro para dentro e para fora da China, inclusive o velho método, consagrado pelo uso, de “super e subfaturamento”.

Por exemplo, para tirar dinheiro da China, um vendedor chinês pode registrar um valor de dólar bem menor do que pagou com a cooperação do importador ocidental, com a diferença sendo depositada numa conta no exterior.

É extremamente difícil estimar a fuga de capital, tanto porque os dados são insuficientes e também porque é difícil distinguir fuga de capital dos processos de diversificação convencionais.

Como o economista do MIT Rüdiger Dornbusch gostava de brincar, identificar fuga de capital é semelhante ao velho ditado sobre o homem cego tocando um elefante: é difícil de descrever, mas ele reconhecerá quando o vir.

Muitas estimativas colocam a fuga de capitais da China em torno de US$ 300 bilhões anualmente nos últimos anos, com um evidente aumento em 2015, à proporção que a economia continua a se deteriorar.

As sempre vigilantes autoridades chinesas estão sempre combatendo a lavagem de dinheiro; mas, devido aos altos incentivos concedidos por outro lado, é como jogar cabra-cega.

Presumivelmente, os anônimos compradores chineses nos últimos leilões de Sotheby’s e Christie’s transferiram seu dinheiro para o exterior antes de apresentarem suas propostas, e os quadros são apenas um meio de investimento que é particularmente fácil de manter em segredo.

A peça de arte não é nem mesmo apresentada: pode ser guardado em um cofre com controle de temperatura e umidade na Suíça ou Luxemburgo.

Na verdade, hoje em dia há casos de vendas de arte que acabam com o quadro sendo apenas transferido de uma seção para outra no mesmo cofre, evocando a forma como o Federal Reserve de Nova York registrava as vendas de ouro entre bancos centrais nacionais.

Claramente, os incentivos e motivos dos investidores em arte que estão engajados em fuga de capital, ou daqueles que querem lavar dinheiro, são bem distintos daqueles dos investidores convencionais.

Os chineses não inventaram esse jogo.

Até pouco tempo atrás a América Latina era a grande mola do mercado de arte, por causa do dinheiro que fugia de economias com governança questionável, como Argentina e Venezuela, assim como pelo uso que os cartéis de drogas faziam de quadros para lavar dinheiro.

Então como o desaquecimento dos mercados emergentes irradiado da China pode afetar os preços das peças de arte contemporânea?

A curto prazo, a resposta é ambígua, porque ainda mais dinheiro está saindo do país à medida que a economia encolhe.

À longo prazo, o resultado é bastante claro, principalmente se for considerada a vindoura elevação das taxas de juros pelo Fed.

Com os compradores principais se retirando, e os preços de oportunidade subindo, o estouro da bolha do mercado de arte não será um quadro bonito.


...

*Ex-economista-chefe do FMI, é professor de Economia e Política Pública na Universidade de Harvard.

  

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