Coisa de energúmenos 11/09/2015
- Blog de Reinaldo Azevedo - Veja.com
O governo deve começar a mover os tanques nesta sexta-feira para transmitir ao adversário -- o adversário, no caso, é aquilo a que Drummond chamava “a enorme realidade” -- a impressão de que está fazendo alguma coisa.
Foi preciso que a Standard & Poor’s rebaixasse a nota do Brasil para a presidente Dilma Rousseff tentar ao menos sair do torpor.
O governo deve fazer hoje um anúncio de corte de despesas, que passa pela diminuição de cargos comissionados -- vamos ver de quantos -- e a revisão de contratos de prestadores de serviços.
PUBLICIDADE
Bem, resta a sugestão de que, no seu quinto ano de governo, Dilma anda a desperdiçar dinheiro nessas áreas… Mas vá lá.
A redução do número de ministérios fica para a semana que vem.
Também se espera para hoje, mais tardar na segunda, a definição dos impostos que o governo pretende aumentar.
Sim, meu amigo, mundo afora, quando alguém fala em elevar a carga tributária ou em criar taxações específicas, sempre será a economia produtiva a pagar o pato em benefício, no mais das vezes, dos improdutivos ou da sustentação da própria burocracia.
Isso é um truísmo, não?
A carga tributária brasileira já está entre as mais altas do mundo: 35,7% do PIB.
Países com taxação semelhante oferecem serviços públicos incomparavelmente melhores.
No nosso caso, boa parte é consumida para alimentar a própria máquina que nos infelicita.
Ontem, em mais uma entrevista desastrada -- em que evidencia o quão pouco tem a dizer, dado o governo ao qual serve --, Joaquim Levy, ministro da Fazenda, voltou a defender que, sem mais tributação, não há solução.
Se ele estivesse fazendo essa declaração na Índia, com uma carga tributária de 19% do PIB, ou no Chile, pouco superior a 20%, talvez alguém o ouvisse com algum interesse.
Mas aqui?
A fórmula já estaria dada.
Consta que o governo quer elevar impostos que não tenham impacto na inflação e que, ora vejam!, atinjam apenas os mais ricos.
Huuummm…
As chamadas “PJs” -- uma ampla gama de profissionais liberais que são pessoas jurídicas -- estão na mira do ministro.
Ele gostaria de meter sobre seus rendimentos uma facada de pelo menos 27,5%, que é a maior alíquota do Imposto de Renda dos trabalhadores regidos pela CLT.
O ministro, este curioso “liberal”, se esquece de que esses mesmos trabalhadores, por óbvio, não têm o chamado Fundo de Garantia, não oneram a Previdência e se encarregam dos custos relativos à própria saúde.
Caso se eleve a alíquota de IR das “PJs” para 27,5%, esse mecanismo não só deixa de implicar algum benefício ao trabalhador -- que administra o pouco que sobra do próprio dinheiro, em vez de entregá-lo ao estado -- como passa a ser desvantajoso.
A sua eventual transformação em celetista só se faria à custa da redução do ganho real, já que as empresas teriam de diminuir seu salário em razão dos custos de contratação.
A consequência seria a desorganização de setores do trabalho que estão entre os mais dinâmicos do país.
Coisa de energúmenos!
Não é por acaso que, hoje, o mais difícil é encontrar um petista que, ao falar privadamente, aposte que Dilma chegará ao fim do mandato.
Soa como escárnio e mesmo ofensa, depois de tudo, a presidente se voltar para a sociedade e pedir que esta lhe dê um pouquinho a mais de imposto.
As coisas talvez soassem de outro modo se ela estivesse no último ano de mandato e se a percepção da deterioração da economia tivesse se dado aos poucos.
Mas não é assim.
Ela está apenas no nono mês de uma jornada que pretendia ter 48.
A realidade está sendo vivida quase como fábula.
A fada, de repente, virou bruxa, e amplas camadas se dão conta de que foram enganadas outro dia mesmo.
Não, senhores!
Os mais furiosos hoje com Dilma nem são os que votaram em Aécio -- sim, estes continuam descontentes.
Os que estão realmente bravos votaram em Dilma.
Os que ficaram com a oposição, convenham, não foram traídos, né?
Nesta sexta, começaremos a ver quais são as medidas do desespero; saberemos, então, que sacrifício Dilma está disposta a fazer e que sacrifício espera que nós façamos.
Tenho a ligeira impressão de que ela vai tentar mesmo é jogar o peso maior nos nossos ombros, especialmente naquela parte do Brasil que trabalha e produz -- e a quer fora do governo -- para sustentar a máquina insaciável dos que só reivindicam e chamam o impeachment de “golpe”.