Pacote de medidas do governo esbarrará no Congresso 15/09/2015
- Blog de Ricardo Noblat - O GLOBO
Somente os banqueiros, por meio de sua entidade de classe, se apressaram, ontem mesmo, em declarar seu apoio ao pacote de medidas anunciadas pelo governo para fazer face à perda recente pelo Brasil do selo de bom pagador, retirado pela agência de classificação de risco Standard & Poor´s.
As federações de indústrias do Rio São Paulo criticaram o pacote. Bem como a Confederação Nacional da Indústria.
Empresários em geral, mesmo com medo de possíveis retaliações, declararam seu desagrado com o pacote.
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Economistas disseram que ele não passa de um remendo feito às pressas. E mal feito.
Para tapar o buraco no orçamento da União do próximo ano, o governo cortou um pouco na própria carne, nada de expressivo.
Preferiu tentar tapar o buraco metendo a mão no bolso dos que pagam impostos.
Quer recriar a CPMF à qual Joaquim Levy, ministro da Fazenda, se opusera outro dia.
E o vice-presidente Michel Temer também. O PMDB, idem. E os demais partidos com representação no Congresso.
Será que o governo calcula que todo esse pessoal dirá amém à CPMF só por que o Brasil perdeu o selo de bom pagador?
Não foi Lula que disse que o selo de nada vale?
Dilma não disse que não era nenhuma catástrofe?
Sabem quantas vezes o Congresso aprovará o pacote do jeito que o governo o embrulhou?
Nenhuma.
Curioso é que se Temer já tivesse substituído Dilma e fosse autor do mesmo pacote, ele acabaria aprovado pelo Congresso.
Como derrubar um presidente, pôr outro no lugar e negar-lhe o primeiro pedido?
Mas não só por isso.
Um governo novo não assumiria com déficit de credibilidade. Pelo contrário.
A tragédia de Dilma, de autoria dela mesma, é que sua credibilidade foi para o buraco depois da reeleição.
Dilma mentiu muito, como sabemos. E sequer se deu ao trabalho mais tarde de pedir desculpas.
Se tivesse pedido, e se fosse sincera ao pedir, recuperaria parte da credibilidade perdida.
Se daí para frente resolvesse governar com transparência, recuperaria mais um pedaço.
E quando explicasse as dificuldades enfrentadas pelo governo, e justificasse o que pretenderia fazer, talvez fosse bem-sucedida.
Não será.
Sobre transparência: a proposta dela é de recriar a CPMF com uma alíquota de 0,20%.
Pois bem: ontem à noite, ao jantar com governadores à caça de apoio, Dilma admitiu aumentar a alíquota para 0,38%.
A diferença de 0,18% ficaria para os Estados.
Como merece crédito um governo que se desmente em poucas horas?
A guilhotina continua sendo afiada para decapitar Dilma.