O suspense na economia mundial continua. O Fed, o banco central dos Estados Unidos, decidiu manter seus juros em zero, embora não tenha descartado uma elevação ainda neste ano.
Em circunstâncias normais, o mercado global festejaria a medida com alta nas Bolsas e queda do dólar. Não foi o que ocorreu desta vez.
Ao postergar o endurecimento da política monetária, a instituição indicou e alimentou o temor de que solavancos nos países emergentes, em particular na China, possam reverberar também nos Estados Unidos, ameaçando o processo de recuperação da crise iniciada na década passada.
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O país apresenta sinais de vitalidade. Seu PIB cresce a uma taxa de 2,5% ao ano, satisfatória no mundo desenvolvido, e o desemprego cai, acercando-se dos 5% tidos como patamar de normalidade. Tende a perder o sentido, portanto, o juro zero adotado na recessão.
O Fed ainda não tem essa certeza e listou motivos para justificar sua inação. Em primeiro lugar, a inflação, hoje em torno de 1,5% ao ano, permanece abaixo da meta de 2%, sem maiores sinais de uma elevação em breve.
Pelo contrário: fatores como a baixa do petróleo e o avanço lento dos salários apontam para a desaceleração dos preços.
No cenário global, há sinais crescentes de ameaças ao crescimento econômico da China, motor do PIB global desde a década passada.
As projeções oficiais do gigante asiático, de expansão ainda vigorosa de 7% neste ano, são vistas com ceticismo pelos analistas.
As dimensões da economia chinesa, só comparáveis às do próprio PIB americano, fazem com que essas dúvidas abalem os mercados de todo o mundo.
Emergentes como o Brasil são os mais afetados no atual momento.
Tanto países exportadores de produtos minerais e agrícolas como aqueles acoplados ao polo industrial chinês se ressentem do esfriamento do mercado internacional.
Além disso, há dívidas externas acumuladas nos últimos anos devido ao incentivo dos juros no chão.
O Fed mostrou estar atento ao risco recessivo em outras partes do mundo.
Ao fim e ao cabo, no entanto, serão as condições internas dos EUA que definirão o futuro de sua política monetária.
E elas, até prova em contrário, permanecem compatíveis com um aperto monetário em algum momento.
Para os mercados, o desconhecido muitas vezes se mostra pior que uma decisão adversa.