Até 1º de outubro, todos os membros da Convenção da ONU sobre Mudança do Clima devem apresentar suas metas para a Conferência de Paris, em dezembro.
Se nada mais der errado, o governo divulga nos próximos dias seu compromisso voluntário para conter a emissão de gases do efeito estufa.
No Brasil, o debate é dominado pela chaga do desmatamento.
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Apesar de um recuo acentuado na última década, ainda se devastam 5.000 km2 anuais na Amazônia.
Há também o sempre esquecido e não menos periclitante cerrado.
Quando uma floresta é derrubada, o carbono de sua biomassa acaba convertido em gases como o dióxido de carbono (CO2), que retém radiação solar perto da superfície e aquece a atmosfera da Terra.
Essa é uma das fontes principais de poluição carbônica no país, algo entre 15% e 35% do total, conforme os parâmetros utilizados.
Se derrubar matas melhorasse a vida de muita gente, alguém poderia considerar a atividade justificável.
Mas não: ganham com ela só uns poucos especuladores.
E boa parte das áreas já desmatadas na Amazônia são hoje pastos abandonados, que com algum investimento sustentariam a expansão do agronegócio sem mais destruição.
Quando se trata de reduzir a poluição climática, portanto, o desmatamento é o problema mais fácil de enfrentar.
Sem prejuízo de pôr um freio também no crescimento das emissões do setor energético, ganha impulso no país a tese do desmatamento zero, tema do Seminário Folha realizado na segunda e na terça-feira (21 e 22) e de reportagem multimídia da série "Tudo Sobre" (folha.com/desmatamento).
O próprio governo Dilma Rousseff (PT) se inclina na direção da tese, ainda que na versão branda do desmatamento "ilegal" zero.
Ela parte da noção de que é impossível uma eliminação completa, pois o Código Florestal permite que proprietários rurais suprimam a vegetação de algo entre 20% e 80% de suas áreas, a depender da região.
Sem dúvida não será trivial eliminar esse resíduo de desmate legal.
Mas o país, credenciado pelo admirável corte na devastação obtido nos últimos anos, poderia apostar mais na sua capacidade de fazer a coisa certa.
Seria contribuição notável para romper a inércia em que se atolam as negociações globais sobre a mudança do clima.
O Brasil se firmaria na posição de país que mais contribuiu para combater o aquecimento global no período recente.
Para tanto, cumpriria que o Planalto demonstrasse uma ousadia que, provam-no a sucessão de erros e hesitações em todas as outras áreas de governo, parece a cada dia mais e mais improvável.