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CRÍTICAS CONSTRUTIVAS

SOS Dardanelos - I
22/08/2005 - Marcos Antonio Moreira -- fazperereca@yahoo.com.br



O data da extrema unção já está marcada: o próximo sábado, 27 de agosto.

Naquele dia, em audiência pública na cidade de Aripuanã -- coração da Amazônia Legal --, será sentenciado à morte o Salto Dardanelos – a mais linda cachoeira de Mato Grosso, uma das mais belas do Brasil e a única no mundo bafejada por um capricho da Natureza.


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Em questão de meses, terá desaparecido uma das mais singulares paisagens que a vista humana pôde contemplar, para dar lugar a um imenso duto de aço, que vai engolir o leito do rio, no alto da sucessão de penhascos e, por gravidade, conduzir toda a água para fazer girar as turbinas de uma projetada hidrelétrica de 250 megawatts.

A certeza do veredito fatal está lastreada no fato de que nunca “a população interessada” rejeitou este tipo de “benefício”, até porque prefeito e vereadores se encarregam de ¨esclarecer¨ a população -- um de olho nos royalties, outros no aumento do duodécimo...

...Uns e outros escudados no apoio do deputado, do senador e, claro, do Exmo. Sr. Dr. Governador do Estado -- que virou ¨mega-ambientalista¨ desde criancinha, mas tem lá suas recaídas.

Bem a propósito, é bom ficar de olho na cobertura ou não-cobertura da ¨Valorosa¨ para saber exatamente o lado que o neo-ecologista Blairo Borges Maggi realmente está.

Localizada nos confins da Amazônia de Mato Grosso, a cidade de Aripuanã, até praticamente o final da década de 70 ficou completamente isolada por terra – era, então, o único município do mundo sem acesso por estrada e onde a molecada conhecia tudo quanto é tipo e marca de avião, mas não o ¨fusca¨ -- o carro mais vendido no mundo.

A região passou a ser ocupada com a implantação da Cidade Científica de Humboldt, -- primeiro campus avançado da Universidade Federal de Mato Grosso, o que lhe valeu e justificou o slogan Unisselva – Universidade da Selva.

A presença da Unisselva gerou muito folclore e também descobertas científicas importantes, entre outras, a constatação da ocorrência de cárie em primatas, acima do paralelo 11 -– devido à composição química da água --, o que resultou na adoção de medidas preventivas nos sistemas de tratamento que atendem as cidades da Amazônia.

O Salto Dardanelos, na área urbana de Aripuanã, é uma sucessão de inúmeras cachoeiras em um desnível de 150 metros e é praticamente impossível admirá-lo em toda sua plenitude – conforme se pode observar na foto acima, onde se vê a cidade ao fundo.

O impacto da água é tão violento que, para quem chega de avião, a bruma que forma pode ser avistada de longe, pairando sobre a mata, servindo de referência aos pilotos. Também é responsável por um fenômeno único na Natureza: de um paredão em granito -- através de “furos” abertos pelo incessante martelar das águas ao longo de milhões de anos --, jorram imensos jatos dágua, tão altos e tão majestosos quanto a cachoeira do Véu da Noiva, em Chapada dos Guimarães – conforme pode ser observado na foto reproduzida no final deste texto.

Essa combinação de fatores produziu no Salto Dardanelos um microclima específico, razão pela qual é um dos poucos lugares do Brasil e do mundo onde ocorre o andorinhão -– uma espécie de beija-flor gigante --, ave não migratória que nidifica nos paredões, protegida pela cortina dágua e pela neblina constante.

A cachoeira -– também chamada de Salto das Andorinhas –, como o próprio nome indica, é, igualmente, na ida e na volta, ponto de parada para aquelas aves migratórias que ao milhares cumprem a rota Canadá/Patagônia e que, durante a longa jornada vão fazendo a “limpeza”, livrando as matas da infestação de cupins e as lavouras do ataque das nuvens de insetos.

O Salto Dardanelos é um dos principais cartões postais de Mato Grosso e garantiu ao município a inclusão em um programa de fomento à atividade turística que assegura recursos federais para investimentos no setor.

Vários aspectos são nebulosos neste projeto da hidrelétrica, mas dois deles chamam especialmente a atenção:

Primeiro de todos:

Mato Grosso é autosuficiente na geração e até exportador de energia ou seja, não se justifica acabar com um patrimônio público de raríssima beleza cênica e privar o Estado de um de seus cartões postais, em benefício de um único investidor privado -– a construtora Norberto Odebrecht, no caso -- mas que, como todo “investidor privado” vai “trabalhar” mesmo é com dinheiro público financiado a prazo de égua e a leite de pato.

Segundo:

Gerar empregos o empreendimento não vai, porque uma vez concluídas as obras -- que serão rápidas, devido à especificidade do projeto --, a usina dará ocupação a uma meia dúzia, se tanto, pois as hidrelétricas são operadas à distância, como a Usina de Manso, enquanto a manutenção da cachoeira, comprovadamente, via exploração racional do turismo, pode gerar empregos sempre e em escala crescente.

Com tantos inconvenientes e desvantagens, o quê realmente há por trás de tanto interesse, então?

É o que veremos nesta série, ao longo da semana.





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