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CURTO & GROSSO
Edição de 13/01/2002
Marcos Antonio Moreira -- fazperereca@yahoo.com.br
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Sei não... Tenho pra mim que esta história da Enron tem gás, energia e combustível suficientes para detonar o primeiro grande escândalo globalizado, a primeira saia-justa deste primeiromundão sem porteira...
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Literalmente, a empresa tem negócios em meio mundo, inclusive no Brasil -- particularmente em Mato Grosso, onde investiu na construção de duas termelétricas e em um gasoduto.
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E se, lá, nos Estados Unidos, onde coisa é organizada, contribuiu para a eleição de metade do Congresso e dois terços da Câmara de Representantes...
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...Não será nenhuma surpresa se, mundo afora, a Enron -- através das diversas subsidiárias do grupo -- também tenha sido, vamos dizer assim, ¨sorteada¨ para contribuir para a eleição de determinados candidatos e determinados partidos...
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Aqui, no Brasil, essas coisas não são tratadas com a transparência com que os norte-americanos lidam, existindo -- lá -- até grupos organizados exatamente para este fim: trilhar doações de campanha...
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Como as coisas aqui, nesta área, são bastante cavernosas e até a Justiça Eleitoral admite que as tais ¨prestações de contas¨ apresentadas por partidos e candidatos não passam de um imenso ¨faz-de-contas¨...
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...Muita gente pode ser levada a imaginar que jamais vai se saber se ¨doações espontâneas¨ para políticos e partidos foram feitas pela empresa, no Brasil de uma maneira geral e, em especial, nos Estados onde a Enron atua...
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Abre parêntese...
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Em Mato Grosso, como foi dito, a Enron construiu duas termelétricas e implantou um gasoduto ligando a Capital do Estado à Bolívia...
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Apenas nas duas termos localizadas nas imediações do Distrito Industrial de Cuiabá, de uma só tacada, a Enron investiu 450 milhões de dólares -- quantia duas vezes superior ao total que o governo de Mato Grosso vem, há sete anos, tentando conseguir através do programa BID/Pantanal...
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Só para constar: as termelétricas do Distrito Industrial são aquelas mesmas que aparecem na propaganda oficial como ¨obra do governo Dante¨...
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Ainda em Cuiabá, a Enron foi ¨convencida¨ pelo governador do Estado a bancar a primeira etapa do Parque Irmã Bonifácia de Oliveira --, onde a múlti investiu 3 milhões de reais.
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Fecha parêntese.
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Se, por um lado, a legislação eleitoral brasileira facilita -- e ao facilitar incentiva -- a doação de dinheiro a candidatos e partidos de tal sorte que ninguém fique sabendo e isto venha, de alguma maneira, tranquilizar aos políticos que eventualmente possam ter recebido dinheiro da Enron...
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Por outro, mais que a própria legislação específica, a própria formação cultural norte-americana pode terminar contribuindo para ¨melar¨ tudo e a opinião pública brasileira ficar sabendo se algum partido político ou candidato, no Brasil, acabou pegando dinheiro da Enron...
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Como se sabe, para o próximo dia 4 de fevereiro está marcado o depoimento do chefão da Enron no Congresso americano...
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Que o chairman da Enron tinha algo a esconder estava claro desde o dia em que foi anunciada a quebra da companhia, já que ele se recusou, por duas vezes, a aceitar convite para explicar como -- se é que alguma explicação existe -- para o fato de a sétima maior companhia dos Estados Unidos e uma das maiores do mundo, simplesmente, desaparecer... Assim sem mais aquela, lesando em bilhões de dólares milhões de investidores e fornecedores.
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Como se recusou, o chefão da Enron acabou intimado a fazê-lo e se se recusar a comparecer, desta vez será conduzido sob vara.
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A gravidade do envolvimento de autoridades americanas no episódio -- incluindo o próprio presidente George ¨Baby¨ Bushn, em carne viva -- gravidade só revelada agora, transforma o aguardado depoimento do próximo dia 4 em um acontecimento que pode resultar apenasmente na renúncia de Baby Bush...
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... E espalhar merda pra tudo quanto é canto do mundo, inclusive aqui neste outro país chamado Mato Grosso, se porventura algum partido ou candidato pegou grana da Enron.
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Afinal, se ao chairman da Enron for perguntado se a companhia contribuiu financeiramente com campanhas políticas em outros países, certamente vai responder que sim...
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E se lhe perguntarem em quais países, ele vai dar o nome dos tais países...
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E se lhe perguntarem para quais partidos ou candidatos, ele vai dizer a sigla e o nome dos tais candidatos...
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Isto é tão certo quanto dois mais dois são quatro...
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Simplesmente porque, também nos Estados Unidos, é proibido mentir sob juramento. Com a diferença que, lá, esta lei ¨pegou¨. E pode acabar pegando gente por aqui...
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Esperar para ver.
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Leia também as seções ¨Vi@ E-mail¨, ¨Tá Ligado?¨ e ¨Críticas Construtivas¨
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