Lula fez um discurso de 54'28" antes de ser preso. Vou analisá-lo segundo duas perspectivas. A primeira diz respeito ao conteúdo: trata-se de uma fala forte, com eixo e com método claros, goste-se ou não deles. A segunda já é um juízo de valor sobre o conteúdo.
E a minha síntese inicial é esta: o líder petista nunca esteve tão certo e tão errado. Infelizmente para ele, e disto o PT dificilmente se dará conta, o ex-presidente está sendo vítima de uma concepção de mundo que ele mesmo consagrou na política.
O resultado da sessão do Supremo Tribunal Federal de quarta-feira passada, quando a Corte negou a concessão de habeas corpus a Lula da Silva, autorizando sua prisão após a condenação por unanimidade pelo TRF-4 pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, mostrou que, a despeito de sua condição de ex-presidente, à luz da Constituição tratava-se de um cidadão comum.
Portanto, submetido às sanções previstas em lei quando dela se desvia, como qualquer outro. É, pois, hora – que já tarda – de o País buscar os meios para construir seu futuro.
O petista Lula desfruta de prerrogativas de ex-presidentes brasileiros, assim como qualquer outro ex-mandatário vivo. Têm direito a equipe de seguranças, assessoria, carros e ajuda de custos com combustível e saúde, que totalizam mais de R$ 1 milhão/ano.
Essas benesses oferecidas pelo estado devem ser mantidas, já que precisariam ser retiradas ou suspensas pelo juiz sentenciante, Sérgio Moro, na 13ª Vara Federal de Curitiba. O Planalto não se manifestou sobre o assunto.
Durante o discurso de Lula na porta do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, no início da tarde de ontem, a presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), célebre pelo apelido de "Narizinho", aproximou-se do petista condenado por corrupção, dá uma cheiradinha na região do ombro dele e comenta com a ex-presidente Dilma, que estava ao seu lado, e parece dizer: "Tá com cheiro de cachaça".
Momentos antes, Lula interrompeu o discurso para pedir a um assessor: "Cadê a minha água".
O que o brasileiro viu pela televisão, durante as vinte e tantas horas de tumulto que se seguiram ao prazo concedido para o ex-presidente se apresentar à prisão, foi um homem confuso, vacilante, amedrontado, tentando pequenas espertezas – nada que lembrasse um líder em modo de “resistência”.
Uma hora parecia querer uma coisa. Dali dez minutos estava querendo o contrário.
Sua “trincheira” durante as horas que antecederam a prisão, o prédio do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, não era uma trincheira de verdade.
Entravam engradados de cerveja, sacos de carvão e carne para churrasco.
E que trincheira é esta, que só resiste porque a tropa do outro lado não aparece?
Lula, mais uma vez, ficou fingindo que queria briga – mas amarelou, como sempre, na hora em que teria mesmo de ir para o pau.
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