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HOJE NA HISTÓRIA
02 de Novembro
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1891
Falece em Cuiabá o tenente-coronel Antonio Augusto Ramiro de Carvalho. Filho do advogado José jacinto de carvalho e D. Maria Seabra das Dores, nasceu nesta Capital a 28 de dezembro de 1833. Tendo assentado praça voluntariamente em 1850, deixou a carreira militar em 1856, oferecendo um substituto. Em 1858 entrou para o quadro dos empregados da Tesouraria de Fazenda desta província, alcançando todos os acessos, inclusive o de inspetor efetivo, por decreto de 28 de outubro de 1884.
Removido pelo ministro Silveira Martins para a tesouraria da província Pará, foi posteriormente exonerado por não ter assumido as funções do dito cargo. Reconduzido pelo ministro Saraiva, aposentou-se e 1878.
Homem de maneiras cativantes, dedicou-se às lutas da imprensa, fundando, com José Estevão Corrêa e Francisco Carlos Bueno Deschamps os jornais Pega Onça e Dunda, que se celebrizaram pela feição irrequieta e brejeira.
Como jornalista — por muitos anos redator-chefe de A Situação, órgão do partido conservador — Ramiro deixou evidente que possuía o segredo da polêmica. A tendência porém, da sua pena era acentuadamente voltada para a ironia.
Os seguintes versos, que se referem à parada militar de de dezembro de 1867, dão a medida daquela característica:
Muita, nédia cavalgada
Correndo desembestada
Por meio da multidão;
Muitos rufos de tambores,
De sino muitos rumores,
Muitos tiros de canhão.
Muita farda agaloada,
Bonita — mas estragada
Nos usos da procissão.
E outras muitas quejandas
Rochoncudas burundangas
No barulho da função.
Também viu-se — coisa bela!
Recostados nas janelas
Lindos rostos engraçados,
A par com parvos janotas,
Esquisitos idiotas
De olhos envidraçados.
Tudo houve com fartura
Na solene formatura
Deste dia nacional;
Que excitou-me até saudade
Da gorda variedade
Dos dias de carnaval!
Na imprensa local ficaram notabilizadas as suas quadrinhas cortantes, publicadas na seção Beotices, que manteve nA Situação. Versinhos de ocasião, sejam ditos, cuja eficácia não pode ser agora compreendida, mas que no seu tempo produziam o efeito de uma descarga elétrica sobre os nervos.
Quem hoje se lembra do coronel André? Vimo-lo em avançada idade, cercado do respeito público, no exercício das funções de juiz de direito. Contemporâneo de Ramiro, companheiros de quartel, sempre mantiveram ambos a mesma amizade, embora adversários políticos. Em conseqüência do seu temperamento econômico, e porque não era nenhuma... beleza, o coronel André adquirira, quando cadete, duas alcunhas que o desesperava.
Ramiro conhecia-lhe esse lado fraco, e num belo dia, por desencontro de interesses partidários, atira à publicidade a seguinte quadra:
Quimporta que me chamem de Vinagre,
Nem também de Jacaré
O que quero é que se esqueçam
Que já fui cadete André!
A métrica, sem dúvida, não merece louvores, mas o efeito foi terrível — inimizaram-se.
No antigo regime, Ramiro de Carvalho foi por vezes eleito deputado provincial, presidente da câmara municipal, e como vice-presidente da província assumiu a administração pública, em 1886, substituindo o Dr, Joaquim Galdino Pimentel e, em 1887, substituindo o Dr. Álvaro Rodovalho Marcondes dos Reis.
Proclamada a República, filiou-se ao partido nacional, prestigiando o governo do general Antônio Maria Coelho, e fundando o jornal Quinze de Novembro, aceitou o encargo de seu principal redator.
Não era, entretanto, republicano; adotou a transformação política operada no país como um fato consumado, e prestou o concurso da sua inteligência ao partido nacional por motivo de ordem privada — para satisfazer o desejo dos seus antigos correligionários.
Expansivo na intimidade, tendo sempre uma pilhéria a explodir, uma frase feliz para cada caso, conservou assim em todas as fases da vida a nota bonachona que formava o subtratum do seu temperamento.
— “A sua república” — “Essa República”, eram frases que partiam comumente dos seus lábios, e que bem exprimiam o apego que lhe ía nalma às instituições decaídas.
Era casado com D. Anna Louzada Ramiro e deixou uma filha — D, Guilhermina da Silva, casada com Germano José da Silva.
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